Eu sou fã confesso de novelas. E quando se trata de uma produção de época melhor ainda, já que só elas podem proporcionar o que a nova novela da Globo, Lado a Lado, vem mostrando: figurinos que enchem os olhos de tão caprichados. Eu ousaria dizer que nunca a televisão brasileira investiu tanto em figurino como nessa produção.
A trama se passa no início do século XX, no Rio Belle Époque, em 1903, e tem como tema principal o nascimento da mulher moderna na sociedade brasileira, além de tratar de outros assuntos como o começo da república, o
surgimento do samba, a chegada do futebol no Brasil, o fim dos
cortiços e o início das favelas cariocas.
Mas voltemos ao que interessa, os figurinos. A grande responsável pelo trabalho primoroso que vemos na telinha é Beth Filipecki, que junto com sua equipe montou um acervo com cerca de 900 peças.
Cores, formas, texturas e volumes distinguem as classes sociais na novela. Para o núcleo da aristocracia muito luxo, rendas e acessórios, já para a parte pobre tecidos mais simples e envelhecidos.
“Figurino de época é muito elaborado. Mas é uma grande oportunidade para
mostrarmos a técnica, o sentimento, a qualificação de nosso trabalho”,
disse Beth em uma entrevista.
O trabalho de Beth conta com pedaços de renda, veludo devoré, seda, tecidos garimpados em brechó, peles, texturas pintadas à mão e patwork. Para facilitar o trabalho, a figurinista encontrou um jeitinho, como ela mesma explica: "As
atrizes usam uma leve base de seda neutra dentro da silhueta da época,
de cintura marcada e saia longa, e sobre ela vou aplicando aventais
feitos de renda, bordados, de cores diferentes, que podem ser trocados
de acordo com o momento da personagem, a luz e a cor desejadas pelo
diretor", explica. A praticidade da base funciona como
uma tela, onde Beth vai pintando e compondo o figurino como for necessário.
Um dos figurinos mais bonitos da novela são as roupas de Patrícia Pillar, a
ex-baronesa da Boa Vista, Constância Assunção. Dama da alta sociedade,
ela se veste geralmente em tons claros de branco e lavanda, com muita renda, joias e tanto requinte que não tem como não se impressionar. E o mais incrível: todo o acabamento das roupas é feito à mão, com bordados
e rendas.
O
trabalho exige muita paciência, são milhares de pedaços de tecido
justapostos, tingidos e bordados. Peças chaves na troca de roupa, os aventais e as capinhas são leves e fáceis de usar
mas super trabalhados.
A personagem de Marjorie Estiano, a moderninha Laura, é outro destaque nos figurinos, com peças que seriam perfeitamente usáveis hoje em dia. Foram acrescentados elementos da moda masculina, como a gravatinha, o colete e os casacos em tons mais escuros, que combinam com a essência da personagem que é a frente de seu tempo.
É interessante que o figurino segue uma linha mais limpa, sem muitos detalhes ou exageros, como nos chapéus por exemplo, semelhante ao estilo que Coco Chanel estabeleceria anos depois.
Mas o grande destaque mesmo do figurino da personagem fica por conta das saias pintadas à mão que ela usa, verdadeiras obras de arte e muito atuais.
Para o elenco do núcleo pobre, a equipe do figurino trabalhou bem as
roupas para que as peças carregassem informações, parecessem gastas,
velhas, muito usadas. Para isso é necessário um tinturamento especial,
um envelhecimento e um desgaste. As mulheres dessa classe social ousavam
mais nos decotes, suas roupas eram como panos amarrados ao corpo,
recosturados, emendados. Nos pés, dificilmente usavam sapatos.
Já os homens, mesmo com o forte calor do Rio, optavam por tendências vindas da Inglaterra, como ternos em lã, casacos, chapéus. O visual mais moderno fica por conta do personagem de Thiago Fragoso. Destaque também para os primeiros uniformes de futebol no Brasil.
Recentemente foi ao ar uma cena que mostras alguns personagens na praia, fato que era muito incomum na época. É interessante pra conhecermos um pouco os curiosos trajes de banho daquela época, feitos de algodão e tecidos confortáveis, mas um tanto calorentos hoje em dia.
Então é isso minha gente. Vale a pena acompanhar esse belo trabalho de Beth Filipecki e nos inspirar um pouco com ele.